O comportamento do IPCA em novembro – a variação foi de 0,28%, ante mediana de projeções na casa dos 0,30% – continuou a apresentar uma dinâmica benigna na opinião dos economistas, embora tenha ocorrido uma aceleração nos preços de alimentos e bebidas e os preços de passagens aéreas ainda tenham pressionado a inflação de serviço no mês. Os núcleos de inflação, segundo os especialistas, balizam as leituras mais otimistas.

Rafaela Vitória, economista chefe do Inter, observa que houve uma variação baixa até para a sazonalidade do fim de ano. Ela destacou a média dos núcleos continua baixa – ficou em 0,18% no mês. “Considerando a média móvel dos últimos 3 meses, aponta para uma inflação de 2,7% ao ano, abaixo até do centro da meta”, comparou.

Um ponto destacado pela economista foi que a inflação de serviços teve alta para 0,70% no mês, puxada principalmente pelas passagens aéreas, com a medida de serviços subjacentes também tendo leve elevação para 0,27%, mas ainda assim isso mostrou um comportamento benigno, sem pressão inflacionária significativa. “A desaceleração dos setores de serviços nesse segundo semestre vem resultando na queda mais acelerada da inflação”, comentou.

Na opinião de Carla Argenta, economista chefe da CM Capital, observa que alguns movimentos de preços pavimentam o caminho para a continuidade da condução da política monetária por parte do Banco Central.

O primeiro é que, mesmo com aceleração impulsionada do grupo de alimentação e bebidas, que representa quase metade do indicador em termos de itens, o índice de difusão recuou, de 52,5% para 51,7%, na margem.

O segundo movimento positivo é que o núcleo do IPCA teve um arrefecimento, passando de 0,24% em outubro para 0,10% em novembro. Ela lembra que esse dado “extremamente positivo” foi parcialmente afetado pela realização da Black Friday, que ajudou acelerar a deflação em bens duráveis, por conta das liquidações feitas nesse período do ano.

Mesmo os serviços em alta (0,70% no mês), assim como os serviços subjacentes (que aceleraram de 0,19% para 0,27%), podem ser relativizados, umas vez que boa parte disso pode ser atrelada ao movimento de passagem aéreas. Só esse item foi responsável por 0,14 pontos percentuais do IPCA divulgado hoje, lembra Carla.

Gasolina ajuda

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, cita outro item que ajudou a manter o bom comportamento do IPCA no mês: a gasolina. “Apesar de a redução no preço do combustível (pela Petrobras) ter sido anunciada no final de outubro, boa parte do impacto sobre os preços ficou guardada para novembro. Com isso, a deflação de 1,7% registrada no período foi responsável por tirar 0,09 ponto percentual do IPCA de novembro”, explica.

Ela destacou entre as altas o custo da alimentação no domicílio. que registrou avanço de 0,75%, mas lembrou que esse movimento é de costume nessa época do ano. No acumulado do ano, houve queda de 1,1%. “Na nossa visão, o preço dos alimentos deve continuar pressionando o IPCA para cima nos próximos meses”, alerta.

Claudia também comenta que o núcleo da inflação está desacelerando e cita que, no acumulado dos últimos 12 meses, houve alta de 4,6%, abaixo dos 4,7% do período terminado em outubro e dos 5% registrados até setembro.

“Para o acumulado do ano, prevemos um IPCA de 4,8%, mas com viés de baixa. O mercado de trabalho aquecido deve manter a inflação de serviços resiliente à frente e, na nossa visão, traz desafios à convergência da inflação para a meta. Projetamos IPCA em 5,5% para 2024.” (Fonte: Infomoney).